Enclaves’ 2014 – João Carqueijeiro

A designação Enclaves’ 2014, para a exposição parece justificar-se pela sugestão de algum eclestismo aparente, que não é mais do que o resultado de anos de experimentação, investigação e maturidade, na extraordinária relação que João Carqueijeiro mantém com as matérias e os materiais que domina magistralmente. Desse aparente ecletismo, poderei dizer que resultam enclaves dentro de um território mais conhecido e emblemático [as misturas de pastas e a inclusão da ardósia fundida], cuja bandeira se reconhece sempre, como sendo a do autor.
Reclamando um formalismo estético em todo o seu percurso [que já passou por este Museu, em 2001, numa outra Exposição Individual – Esculturas no Átrio], a obra de João Carqueijeiro remete, sempre, para os segredos dessa espécie de alquimia: a transformação da terra informe em Obra, pela ação disciplinar o indisciplinável – o fogo. São conhecidas as formas tridimensionais de grande dimensão [coexistindo ao lado de outros formatos], criando um permanente debate em torno da escultura cerâmica, impossível de não levar a sério, na nossa contemporaneidade.
Provoca no espectador a emoção estética, reclamada por Clive Bell, quando afirma:”Para a discussão estética, apenas temos de acordar em que as formas dispostas e combinadas de acordo com certas leis desconhecidas e misteriosas nos emocionam de um modo particular, e em que a tarefa do artista consiste em combiná-las e dispô-las de modo a emocionar-nos.”*
É esta tarefa que João Carqueijeiro nos apresenta, materializada neste conjunto de obras. Todas elas podem parecer o reflexo de leis desconhecidas e misteriosas [para nós, mas dominadas, plenamente, pelo autor!] . Todas elas criam espaços de culto para as emoções de cada espectador, enquanto sujeito concreto e único… sem reclamarem a representação de nada, sem incitarem, sequer, ao facilitismo da figura. São obras que se atrevem à exposição, quer para o mais incauto dos espectadores, quer para os mais versados e argutos.
Não deixam ninguém indiferente e com o mesmo olhar.
Cristina Leal